Dinâmico, espaçoso e uma aparência comportada assim como todo carro de luxo. Comandos intuitivos num sistema que oferece a melhor leitura a quem o conduz. 120 cavalos à etanol e 116 à gasolina. Quatro cilindros, turbo e injeção direta do combustível, dupla embreagem com seis velocidades. Ultrapassagens sem dificuldades, condução prazerosa. Ar-condicionado digital, controle de tração ASR, volante e bancos em couro, rádio CD Player em MP3, computador de bordo, airbags e sensores de estacionamento. Nosso personagem de hoje é cheio de atributos, não é verdade? Segundo a revista “Quatro Rodas”, mais renomada na cobertura de veículos automotores, esse moço, tão supremo em qualidades, “ainda não emplacou no Brasil”. Isso até ser conhecido em determinada Casa Legislativa e, por lá, ter virado uma incontrolável febre.
Estamos falando do Jetta 2012, modelo quentinho da Wolksvagen, que virou objeto de desejo e perdição por parte dos vereadores do Rio de Janeiro, que haviam encomendado 51 unidades sem licitação, das quais 33 já haviam sido quitadas junto à montadora. O montante da conta passa dos R$ 2,2 milhões.
![]() |
Quem não quer o Jetta 2012? |
Ia tudo bem para os parlamentares, até o dia que a história do sonho do “carro novo” vazou e chegou até os ouvidos da opinião pública. O povo se revoltou e pediu explicações diretas aos seus representantes na Câmara Municipal. Daí, como se tudo aquilo fosse uma escrabosa novidade, a maioria dos vereadores (que provavelmente foram coniventes com a decisão) se mostrou contrária à atitude e acabou isolando o presidente da Casa, vereador Jorge Felippe (PMDB), que de acordo com matéria publicada no “O Dia”, se irritou com os colegas pela mudança da opinião inicial.
Ontem (13), após intensas discussões, Felippe anunciou que pretende suspender a compra, mas com o valor debitado será difícil reaver o dinheiro. A questão agora é: quem fica com o prejuízo?
Segundo o presidente, os carros de luxo serviriam para o transporte dos vereadores nos trabalhos das comissões. Jorge Felippe sugeriu, para tapar o sol com a peneira, a compra de vans para transportar os parlamentares. Mas a vereadora Andrea Gouvêa Vieira (PSDB) foi enfática: “Há 20 anos que os vereadores não têm carro. Todos recebem gasolina de graça e têm motorista. Não existe a necessidade dos carros”.
Se a escolha do modelo foi o motivo da revolta popular, a justificativa dada é de que apenas aquele modelo continha todos os mecanismos necessários para o bom andamento do trabalho dos parlamentares.
Para nenhuma surpresa minha, alguns dos vereadores são a favor da compra. São eles: Renato Moura (PTC), empresário do ramo de ópticas e bens declarados em R$ 292 mil; Carlinhos Mecânico (PPS), empresário e R$ 6 mil em bens declarados; e Professor Uóston, professor universitário e bens declarados em R$ 242 mil. Este último chegou a dizer “não podemos ser sacerdotes da sociedade e retirar coisas do sustento de nossa família”.
![]() |
Eles andam a pé: Renato Moura (PTC), Jorge Felippe (PMDB), Carlinhos Mecânico (PPS) e Prof. Uóston (PMDB) |
A reunião para a decisão da compra dos veículos foi realizada em março e dos 51 parlamentares, apenas cinco se recusaram a receber o Jetta 2012: Paulo Pinheiro (PPS), Andrea Gouvêa (PSDB), Leonel Brizola Neto (PDT), Eliomar Coelho (PSOL) e Tereza Bergher (PSDB).
É revoltante e fervente a reação popular a respeito de um acontecimento como este. Parece que nunca vimos algo deste jeito, ou que, esperamos que alguns políticos tenham o mínimo de “vergonha alheia” antes de propor algo tão esdrúxulo. Mas não paramos para perceber que o “político brasileiro”, assim caricaturado mesmo, é apresentado com um adjetivo pátrio bem conhecido. Ele é BRASILEIRO. Assim como eu, minha mãe, minha tia, meu namorado, você, a gata do Facebook, ou aquele ator de stand-up comedy que você retwittou agora há pouco. O que faz esses homens e mulheres aceitarem um presentinho tão mau caráter, e ainda justificá-lo é uma característica que nos é incorporada da própria vivência cultural (não artística, viu?), o famoso “jeitinho brasileiro”. Essa característica de resolver tudo em busca de alguma vantagem pessoal, a malandragem, o “passar pra trás”, que Roberto Damatta muito bem expressou em obras como “Carnavais, Malandros e Heróis” e “O que faz do brasil, Brasil?”. Furar fila, jogar papel no chão, “achado não é roubado”, “dá aqui um pouco mais”, “dólar na cueca”, “oração depois da propina”, tudo isso é a mesma coisa e faz parte de você.
Muito fácil é olhar o exemplo dos vereadores cariocas que só querem dar uns rolês em banco de couro, ouvindo seu MP3 do Zeca Pagodinho em direção a Angra dos Reis e achar isso absurdo. Porém, você só terá credibilidade de reclamar se olhar para a sua própria corrupção e também denominá-la “absurda”.
“Ladrão julgando ladrão, 500 anos de corrupção”, Renato Araújo.
#nosTrending
@jvrondon João Vitor Rondon
a falta de vergonha na cara dos políticos é inaceitável. O é ainda mais a omissão dos brasileiros. #jettaeocacete
@VagnerMer6 Vagner Mercês
Boa causa essa: #jettaeocacete ! Tá na hora da VW se pronunciar e aceitar o estorno dessa compra!
@alanjhonson Alan Jhonson
A minha geração aprendeu a reclamar pelos cantos igual a namorados brigados e não fazer nada só esperar a poeira baixar #jettaeocacete
@tainahelmich tainá h.
o que é esse #jettaeocacete nos TT's? ;o
@a_andre26 Adenilson.
Os politicos que votaram naquela uniao homoafetiva ganharam um Jetta por terem votado rapido? (2 dias) Tão tirando né! #jettaeocacete
@omachoalpha Diego Souza
Enquanto você SOFRE COM OS IMPOSTOS pra comprar um carro popular os vereadores do Rio andam de Jetta. #Jettaeocacete
Conheça melhor seus políticos e, assim, parafraseando Sócrates, “conhece-te a ti mesmo”:
Nenhum comentário:
Postar um comentário